domingo, 31 de março de 2013

Balada da Neve


Batem leve, levemente,como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.


É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…


Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.


Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!


Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…


Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…


E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…


Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…


E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.


Augusto Gil

terça-feira, 26 de março de 2013

Justiça...

"A justiça é como as serpentes: só morde os descalços."
Eduardo Galeano

sábado, 23 de março de 2013

A "BANDA DO CASACO" vai reeditar

Ora aí está:
- Marcelo Rebelo de Sousa na TVI;
- Marques Mendes da SIC;
- José Sócrates na RTP.

E a "Banda do Casaco" que vai reeditar a discografia completa.

Tal como eles cantam:
- Não há cu que não dê traque !

sexta-feira, 22 de março de 2013

Surge Janeiro frio e pardacento

Ontem foi o Dia Mundial da Poesia. Apenas mais um "Dia de qualquer coisa..."
Não consegui vir ao "Conto..." na data certa, venho agora com um dia de atraso.
Nada mau se Portugal, todo, só andasse com um dia de atraso !
Como não vou comprar nada para oferecer ao blog, deixo-lhe esta lembrança do grande e muito esquecido José Régio.

Surge Janeiro frio e pardacento

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.


JOSÉ RÉGIO,1969