1ª estorinha
Era uma vez um homem que sofria do coração. Terrivelmente...
Palpitações, aceleração cardíaca ou, pelo contrário, outras vezes grande
lentidão de batimento. Análises feitas, exames cuidadosos, TAC’s, mais
análises, ressonâncias, mais análises... experiências sobre experiências.
Vieram especialistas daqui e de acolá, o paciente foi aqui e acolá, até que as
equipas médicas ditaram o diagnóstico. A solução é o transplante. Aquela “máquina”
não está em estado de recuperar com segurança. Só por substituição, mesmo correndo
os riscos todos envolvidos no melindre da operação indispensável.
Havia que preparar toda a operação, a que envolvia o
paciente, ele mesmo, mas ainda antes disso toda a preparação necessária para
encontrar um coração suficientemente credível, em idade e em saúde, que ficasse
disponível para a substituição. Análises de compatibilidade, mais do que
muitas, avisos de alerta para a necessidade, todos os acidentados por esse
mundo afora foram analisados na expectativa de se encontrar um coração capaz de
substituir o coração doente.
E de repente, não mais que “de repente” (diria o poeta), eis
que apareceu a boa nova, foi encontrado um coração disponível em condições
perfeitas. Até essa altura tinham sido consumidos mais de 500 mil euros nas
pesquizas. A dificuldade estava então na conservação, acomodação e transporte
do órgão até ao hospital onde o doente permanecia à espera. Contas feitas foram
mais 200 mil euros para esta fase da manutenção e transporte do coração, sempre
acompanhado por um especialista de nome e uma enfermeira experiente, avião
alugado especialmente para o efeito, batedores da GNR em terra e tudo o mais
para garantia do êxito da operação.
Tudo preparado,
equipa médica a postos, anestesistas, enfermeiros, especialistas de todas as
especialidades, foram buscar o doente à sala onde se encontrava resguardado.
Tinha morrido. O hospital não teve 49 cêntimos para uma
garrafita de água oxigenada indispensável para a desinfeção de pequeníssima
ferida que lhe surgiu num pé, fruto de uma ida à casa de banho mesmo na véspera
da operação final.
FIM
JPS-26Out2013 (a 2ª estorinha vem a seguir)
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